Já queria postar esse texto há um tempo, desde que o li no livro Uma Jornada no Tempo (resenha aqui). Já tinha ouvido falar e lido algum trecho da carta por aí, mas ao lê-la na íntegra, não teve como segurar o choro. É simplesmente o modo como eu penso, e como todos devíamos pensar. Novamente, não vou entrar no mérito de que a culpa do que estamos fazendo com o planeta hoje é totalmente religiosa em sua origem. Apenas, por favor, LEIAM A CARTA. Não vai tomar mais do que 5 minutos do seu tempo, e no entanto acredito sinceramente que vai fazer alguma diferença na sua vida. Grande ou pequena, aí é com você, mas pra mim foi muita, e sempre que posso repasso esse texto a mais pessoas. Se você gostar, salve-o e faça com que mais pessoas leiam. Eu acredito sinceramente que esta carta pode mudar o mundo, nem que seja um pouquinho (quem dera que ela chegasse a todos na Terra). Por mais que pareça, o Chefe Seattle não estava inspirado pela Divindade quando a escreveu. É simplesmente o modo como os nativos norte-americanos, e acredito que os do resto da América, pensam. São mais ligados e agradecidos à natureza do que jamais conseguiríamos ser. Aprender com eles é sempre um prazer e uma lição pra mim.
Há mais de um século e meio, em 1855, o Chefe Seattle/Sealth (Ts'ial-la-kum originalmente), dos Suquamish, do Estado de Washington, Costa Oeste dos Estados Unidos, enviou esta carta ao presidente Franklin Pierce, em resposta a uma oferta para compra do território indígena pertencente aos Suquamish e aos Duwamish. O território é onde hoje se situa a cidade mais importante do estado norte-americano de Washington, homônima ao chefe índio homenageando-o, no extremo noroeste dos EUA. Como desfecho, através do Tratado de Port Elliot, em 1855, ambas nações migraram para a reserva de Port Madison, onde o Chefe Seattle e sua filha foram enterrados.
"O grande Chefe de Washington mandou dizer que deseja comprar a nossa terra; o grande Chefe assegurou-nos também sua amizade e benevolência. Isso é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não precisa de nossa amizade.
Vamos, porém, pensar em sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará nossa terra. O grande Chefe de Washington pode confiar no que o Chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na alteração das estações do ano. Minhas palavras são como as estrelas, elas não empalidecem.
Como podes comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal ideia nos é estranha. Se não somos donos da pureza do ar ou do resplendor da água, como então podes comprá-los? Cada torrão desta terra é sagrado para meu povo; cada folha reluzente de pinheiro, cada praia arenosa, cada véu de neblina na floresta escura, cada cada clareira e inseto a zumbir são sagrados nas tradições e na consciência do meu povo. A seiva que circula nas árvores carrega consigo as recordações do homem vermelho.
O homem branco esquece sua terra natal, indo vagar, depois de morto, por entre as estrelas. Nossos mortos nunca esquecem esta formosa terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo e a grande águia são nossos irmãos. As cristas rochosas, o orvalho das campinas, o calor que emana do corpo de um mustangue, e o homem, todos pertencem à mesma família.
Portanto, quando o grande Chefe de Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, ele exige muito de nós. O grande Chefe manda dizer que irá reservar para nós um lugar em que possamos viver confortavelmente. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, vamos considerar a tua oferta de comprar nossa terra. Mas não será fácil, porque esta terra para nós é sagrada.
Esta água brilhante que corre nos rios e regatos não é apenas água, mas sim o sangue de nossos ancestrais. Se te vendermos a terra, terás de te lembrar que ela é sagrada e terás de ensinar aos teus filhos que é sagrada e que cada reflexo espectral na água límpida dos lagos conta os eventos e as recordações da vida de meu povo. O murmúrio da água é a voz do pai de meu pai. Os rios são nossos irmãos, eles saciam nossa sede. Os rios transportam nossas canoas e alimentam nossos filhos. Se vendermos nossa terra, terás de te lembrar e ensinar a teus filhos que os rios são irmãos nossos e teus, e terás de dispensar aos rios a afabilidade que darias a um irmão.
Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele, um pedaço de terra é igual a outro, porque ele é um forasteiro que chega na calada da noite e tira da terra tudo o que necessita. A terra não é sua irmã, mas sim sua inimiga, e depois de conquistá-la, ele vai embora, deixando para trás os túmulos de seus antepassados, e nem se importa. Arrebata a terra das mãos de seus filhos à herança. Ele trata sua mãe, a terra, e seu irmão, o céu, como coisas que podem ser compradas, saqueadas, vendidas como ovelhas ou miçangas cintilantes. Sua voracidade arruinará a terra deixando para trás apenas um deserto.
Não sei. Nossos modos diferem dos teus. A visão de tuas cidades causa tormento aos olhos do homem vermelho. Mas talvez isto seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende.
Não há sequer um lugar calmo nas cidades do homem branco. Não há lugar em que se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera, ou o tinir das asas de um inseto. Mas talvez assim seja por eu ser um selvagem que nada compreende; o barulho parece apenas insultar os ouvidos. E que vida é aquela se um homem não pode ouvir a voz solitária do curiango ou a conversa dos sapos em volta de um brejo? Sou um homem vermelho e nada compreendo. O índio prefere o suave sussurro do vento a sobrevoar a superfície de uma lagoa, e o cheiro do próprio vento, purificado por uma chuva ou recendendo a pinheiro.
O ar é preciso para o homem vermelho, porque todas as criaturas respiram em comum: os animais, as árvores, o homem.
O homem branco parece não perceber o ar que respira. Como um moribundo em prolongada agonia, ele é insensível ao ar fétido. Mas se te vendermos nossa terra, terás de te lembrar que o ar é precisoso para nós, que o ar reparte o teu espírito com toda a vida que ele sustenta. O vento que deu ao nosso bisavô seu primeiro sopro de vida também recebe o seu último suspiro. E, se te vendermos nossa terra, deverás mantê-la preservada, feito santuário, como um lugar em que o próprio homem branco possa ir saborear o vento adoçado com a fragrância das flores campestres.
Assim, pois, vamos considerar a tua oferta para comprar nossa terra. Se decidirmos aceitar, eu o farei sob uma condição: o homem branco deverá tratar os animais desta terra como se fossem seus próprios irmãos.
Sou um selvagem e desconheço que possa ser de outro jeito. Tenho visto milhares de bisões apodrecendo nas pradarias, abandonados pelo homem branco, que os abate a tiros disparados dos trens em movimento. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais importante do que o bisão que nós, os índios, matamos apenas para o sustento de nossa vida.
O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Porque tudo o que acontece aos animais logo acontecerá aos homens. Tudo está relacionado entre si.
Deves ensinar a teus filhos que o chão debaixo de seus pés são as cinzas de nossos antepassados; para que tenham respeito ao país, conta a teus filhos que a riqueza da terra é a vida da parentela nossa. Ensina a teus filhos o que temos ensinado aos nossos: que a terra é nossa mãe. Tudo o que fere a terra fere os filhos da terra. Se os homens cospem no chão, cospem sobre eles próprios.
De uma coisa sabemos: a terra não pertence ao homem; é o homem que pertence à terra. Disso temos certeza. Todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto agride a terra agride os filhos da terra. Não foi o homem quem teceu a trama da vida; ele é meramente um fio da mesma. Tudo o que ele fizer à trama, a si próprio fará.
Nossos filhos viram seus pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E, depois da derrota, passam o tempo em ócio, envenenando seus corpos com alimentos adocicados e bebidas ardentes. Não tem grande importância onde passaremos nossos últimos dias; eles não são muitos. Mais algumas horas, mesmo uns invernos, e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nesta terra, ou que têm vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará para chorar sobre os túmulos; um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso.
Nem o homem branco, cujo Deus com ele passeia e conversa de amigo para amigo, pode ser isento do destino comum. Podemos ser irmãos apesar de tudo. Vamos ver, de uma coisa sabemos, que o homem branco venha, talvez, um dia a descobrir: nosso Deus é o mesmo Deus. Talvez julgues, agora, que O podes possuir do mesmo jeito como desejas possuir nossa terra; mas você não pode. Ele é o Deus da humanidade inteira e é igual sua piedade para com o homem vermelho e o homem branco. Esta terra é querida para Ele, e causar dano à terra é acumular de desprezo o seu Criador. Os brancos também passarão; talvez mais cedo do que outras tribos. Continuas poluindo tua cama e hás de morrer, uma noite, sufocado em teus próprios dejetos!
Porém, ao perecerem, vocês brilharão com fulgor, abrasados, pela força de Deus que os trouxe a este país e, por algum desígnio especial, lhes deu o domínio sobre esta terra e sobre o homem vermelho. Este destino é, para nós, um mistério, pois não podemos imaginar como será quando todos os bisões forem massacrados, os cavalos selvagens domados, os cantos secretos das florestas carregadas do odor de muita gente, e a vista das velhas colinas empanada por fios que falam. Onde ficará o emaranhado da mata? Terá acabado. Onde estará a águia? Terá desaparecido. Restará dar adeus à andorinha e à caça; será o fm da vida em plenitude e o começo da luta para sobreviver.
Compreenderíamos, talvez, se conhecêssemos com que sonha o homem branco; se soubéssemos quais as esperanças que transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais as visões do futuro que oferece às suas mentes para que possam formar desejos para o dia de amanhã. Somos, porém, selvagens. Os sonhos do homem branco são para nós ocultos. E por serem ocultos, temos de escolher nosso próprio caminho. Se consentirmos vender nossa terra, será para garantir as reservas que nos prometestes. Lá, talvez possamos viver nossos últimos dias conforme desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver partido e sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará vivendo nestas florestas e praias, porque nós as amamos como ama um recém-nascido o bater do coração de sua mãe.
Se vendermos a nossa terra, ama-a como nos a amamos. Protege-a como nós a protegemos. Nunca esqueças de como era esta terra quando dela tomaste posse. E, com toda a tua força, o teu poder e todo o teu coração, conserva-a para teus filhos e ama-a como Deus nos ama a todos. De uma coisa sabemos: nosso Deus é o mesmo Deus e esta terra é por Ele amada. Nem mesmo o homem branco poderá evitar o nosso destino comum..."
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